Nascida em dez de dezembro de 1920, natural de Tchetechelnik, na Ucrânia, recebeu o nome de batismo de Haia Lispector. Veio com sua família para o Brasil, para a cidade de Maceió no mês de março, no mesmo ano de seu nascimento. Por iniciativa do pai, muda seu primeiro nome para Clarice ficando assim Clarice Lispector.
Em 1922, a família muda-se para Recife, Pernambuco e em 1928 passa a frequentar o Grupo Escolar João Barbalho, onde foi alfabetizada.
Sua mãe falece em setembro de 1930, e nesta mesma época, matricula-se no Colégio Hebreo-Idisch-Brasileiro, estuda piano, hebraico e iídeche.
Aos nove anos de idade, ao assistir uma peça de teatro, fica encantada e escreve sua primeira obra “Pobre menina rica”, peça em três atos, cujos originais foram perdidos.
Em 1931, já escrevia historinhas, mas todas eram recusadas pelo “Diário de Pernambuco”, pois suas histórias não tinham enredos e fatos, apenas sensações.
É aprovada no exame de admissão no Ginásio de Pernambuco e sua família que era muito pobre prospera, e seu pai decide se mudar para o Rio de Janeiro em 1935.
No ano seguinte, termina o curso ginasial e engaja-se na leitura de livros nacionais e estrangeiros em uma biblioteca de seu bairro. Nessas leituras descobre Rachel de Queiroz, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Júlio Diniz e Dostoiévski.
Com dificuldades financeiras, começa a dar aulas particulares de Português e Matemática.
Após a morte de seu pai, escreve vários contos: “A fuga”, “História interrompida” e “O Delírio”.
Já casada, arruma um emprego de tradutora no Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP, dirigido por Lorival Fontes, mas acabou ganhando o lugar de redatora e repórter da Agência Nacional, o qual inicia a carreira de jornalista. Nesse emprego, convive com Antonio Callado, Francisco de Assis Barbosa e Jose Conde. Com seu primeiro salário compra o livro “Bliss-Felicidade”, de Katherine Mansfield, com a tradução de Érico Veríssimo.
Além de textos jornalísticos, em 1941 continua publicando textos literários e, como cursava Direito, colabora com as revista de estudantes de sua faculdade. Conhece Lúcio Cardoso, Vinícius de Moraes, Rachel de Queiroz, Otávio de Faria entre outros, no bar “Recreio”, na Cinelândia, onde passa a frequentar.
Em 1942, publica seu primeiro Romance, “Perto do coração selvagem”, e em 1943 casa-se com o seu colega de faculdade Maury Gurgel Valente, que ingressa posteriormente na carreira diplomática.
Seu livro recebe críticas favoráveis em 1944 de Guilherme Figueiredo, Breno Accioly, Dinah Silveira de Queiroz, Lauro Escorel, Lúcio Cardoso, Antônio Cândido e Ledo Ivo.
Lauro Escorel, caracteriza que o romance revelam uma “personalidade de romancista verdadeiramente excepcional, pelos seus recurso técnicos e pela força da sua natureza inteligente e sensível.”
Clarice, junto com seu marido muda-se para Nápoles em plena Segunda Guerra Mundial, ficando dividida entre deixar a família e os amigos e a obrigação de seguir com seu marido.
Na Itália, após a viagem escreve: “Na verdade não sei escrever cartas sobre viagens, na verdade nem mesmo sei viajar”. Nessa mesma época termina seu segundo romance, “O lustre” que é publicado somente no ano seguinte.
A escritora recebe o prêmio Graça Aranha, pois seu romance “Perto do coração selvagem” é considerado o melhor romance de 1943.
Durante a Guerra, em 1945, dá assistência aos brasileiros feridos em um hospital americano. Nessa mesma época conhece Fernando Sabino, que a mantinha informada por cartas, quase que diariamente sobre as notícias do Brasil.
Em uma carta às irmãs, em janeiro de 1947 ela diz: “Tenho visto pessoas demais, falado demais, dito mentiras, tenho sido muito gentil. Quem está se divertindo é uma mulher que não é a irmã de vocês. É qualquer uma.”
Ao terminar o último capítulo de “A cidade Sitiada”, Clarice dá a luz ao primeiro filho.
Em 1951, publica uma seleta com seis contos na coleção “Cadernos de Cultura”, editada pelo Ministério da Educação e Saúde. No ano seguinte, cola grau na faculdade de direito, volta a trabalhar em jornais usando o pseudônimo de “Tereza Quadros”, no jornal “O comício”. Engravida novamente e parte para os Estados Unidos, onde permanece por oito anos. Seu filho Paulo nasce em fevereiro de 1953, divide seu tempo entre os filhos e as obras “Maçã no escuro”, os contos de “Laços de Família” e a literatura infantil. Torna-se grande amiga de Erico Veríssimo e sua esposa Mafalda que em seguida batizam os seus dois filhos.
Clarice vem pra o Brasil com os dois filhos para passar férias e aproveita para tentar publicar suas obras, mas, apesar de todo o esforço de seus amigos Fernando Sabino e Rubem Braga, os livros não são editados. A escritora se mostra triste para com o tipo de vida que leva.
Ela rompe o contrato com Simeão Leal em 1957 e em 1958 Érico Veríssimo edita seu romance e seus contos pela Editora Globo, de Porto Alegre.
Separa-se de seu marido em julho de 1959 e regressa para o Brasil com seus filhos. Precisando de dinheiro, inicia em agosto, uma coluna no jornal “Correio da manhã” com o pseudônimo de “Helen Palmer”.
É finalmente publicado “Laços de Família” em 1960, seu primeiro livro de contos, pela editora Francisco Alves e em 1961 publica “A maçã no Escuro” que dá a escritora o prêmio Carlos Dolores Barbosa e recebe também o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro por “Laços de família”.
Em 1963, no XI Congresso Bienal do Instituto Internacional de Literatura Ibeo-Americana, realizado em Austin – Texas, profere sobre o tema “Literatura de vanguarda no Brasil”. Em seguida escreve o romance “A paixão segundo G.H.” que é publicado no ano seguinte.
Em 1965 sua obra começa a ser vista com olhar diferente, pela crítica e pelo leitor após a publicação de A paixão segundo G.H.
Sua obra “Perto do coração selvagem” com algumas adaptações é encenada em uma peça de teatro por José Wilker, Glauce Rocha e outros. Dedica-se à educação de seus filhos e principalmente da saúde de Pedro que tem esquizofrenia. Apesar das publicações de seus livros, Clarice passa por grande dificuldade financeira.
Em setembro de 1966, sofre um acidente gravíssimo em um incêndio ocorrido na sua residência causado por dormir com um cigarro aceso, acidente que quase levou a escritora a ter que amputar sua mão direita, o que mudaria totalmente sua vida.
Após o acidente, devido inúmeras cicatrizes, a escritora cai em uma terrível depressão, mesmo tendo ajuda de amigos, não consegue se recuperar da doença.
Publica, de 1967 a 1973 crônicas no “Jornal do Brasil” e lança o livro infantil “O mistério do coelho pensante” que é agraciado com a “Ordem do Calunga”, concedido pela Campanha Nacional da Criança. Trabalha na revista Manchete fazendo entrevistas com artistas famosos, participa da manifestação contra a ditadura militar, é nomeada assistente de administração do Estado e publica mais um livro de literatura infantil “A mulher que matou os peixes”, ilustrado por Carlos Scliar.
Em 1970, já aposentada pelo INSS, publica “Água viva”, em 1971 “Felicidade Clandestina” e em 1973 “ A imitação da Rosa”.
Trabalha como tradutora em 1974, para manter sua renda, publica “A via crucis do corpo”, e “Onde estivestes de noite” que foi recolhido após a primeira edição porque foi colocada uma interrogação erroneamente no título.
Depois de se tornar amiga de Olga Boreli, a escritora viaja com ela para Bogotá - Colômbia em 1975, local onde participa do I Congresso Mundial de Bruxaria, mas teve uma indisposição e pediu para que lessem o conto “O ovo e a galinha” ficando sem explicação da magia que existe no conto. Nesse mesmo ano lança “Visão do Esplendor”.
Em 1976 é homenageada na Argentina, e em abril deste mesmo ano é premiada pela Fundação Cultural do Distrito Federal.
Em entrevista com o jornalista Jose Castello de “O Globo” diz que escreve para se manter viva.
A escritora falece em nove de dezembro de 1977 vítima de uma obstrução intestinal, neste ano havia publicado “A hora da estrela”.
Nos anos seguintes após sua morte, ainda foram publicados “Um sopro de Vida”, “Para não esquecer” e o infantil “Quase verdade”.
O romance “A paixão segundo G.H.”, foi publicado na França com a tradução de Claude Farny, em 1978. Também foi reeditada em 1990 pela editora Francisco Alves e encenada na França no teatro Gérard Philippe, em montagem de Alain Neddam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário